Atuação da Defensoria Pública dá dignidade e dobra produção de catadores
Desde a chegada da advogada Carolina Renée a vida mudou em Água Boa. Ao assumir seu trabalho na Defensoria Pública e constatar a condição de trabalho degradante e desumana dos catadores de recicláveis, não teve dúvida: começou a atuar em favor da sociedade. O resultado, imediato, foi gratificante. Os incansáveis trabalhadores, que não contavam sequer com calçado adequado para exercer suas atividades, em um mês receberam EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e passaram a trabalhar com mais segurança. A atuação da defensora ajudou a desenvolver parcerias com os moradores da cidade e a exigir do poder público os direitos constitucionais até então negados àquela categoria profissional. Em seguida, agregaram o uniforme para o trabalho e aos poucos viram se tornar realidade algumas conquistas que nem mesmo imaginavam alcançar.
A defensora pública Carolina Renée Pizzini Weitkiewic, ao buscar os direitos dos catadores, passou a acompanhar o grupo buscando pôr fim a uma situação que há mais de 30 anos contribuía para a degradação dos trabalhadores. Fomentou o projeto “Reciclando Dignidades” e incansavelmente vem conquistando direitos que o poder público sempre negou a eles. “São pessoas muito simples que precisavam de ajuda tanto para regularizar a associação quanto para entender a importância da própria atividade (deles) para a sociedade”, diz Carolina.
Neste processo foi criada a Acamara (Associação de Catadores de Materiais Recicláveis do Araguaia), que passou a organizar e dar visibilidade aos trabalhadores aumentando a autoestima deles e melhorando as condições de todos na cidade. Além do trabalho em condições dignas no dia a dia, os catadores agregaram às atividades máquinas e até um caminhão que hoje percorre a cidade, recolhendo, seletivamente, materiais destinados a reciclagem, atendendo os moradores de Água Boa.
Segundo Vanuza Gonçalves da Silva, presidente da Acamara e pioneira na atividade de catadores de recicláveis no município de Água Boa, “com as melhores condições a nossa produção dobrou de 20 para 40 toneladas de recicláveis, e nossa renda mensal aumentou de 900 para cerca de 1.600 reais”, relatou durante a quarta Webinar realizada pelo PERS – que abordou a logística reversa. “A jornada sempre foi puxada. A gente acorda cedo e se prepara para passar o dia todo em meio a pilhas de lixo”, afirma. “Mas não reclamo, pelo contrário, só tenho que comemorar e agradecer, porque foi assim que consegui sustentar minha família”, concluiu.
O trabalho desenvolvido em Água Boa levou à criação, no início de outubro, do Grupo de Atuação Estratégica em Direitos Coletivos (Gaedic) – composto por sete defensores públicos – que já definiu, entre as primeiras ações, acompanhar a formulação do Plano Estadual de Resíduos Sólidos (PERS) que vem sendo feito pela UFMT em parceria com a Sema. Compõem o grupo os defensores Kelly Christina Monteiro, de Cuiabá; Cleide Nascimento, de Várzea Grande; Josiane Barros, de Barra do Bugres; Paulo de Queiroz, de Água Boa; Paulo Marquezini, de Alta Floresta e Ubirajara Vicente Luca, de Sorriso.